terça-feira, 26 de junho de 2012

Um esboço a uma teoria da fofoca


Volto no dia de hoje com uma tremenda disposição ao sarcasmo. Talvez os passarinhos tenham me cantado funk carioca enquanto dormia ou quem sabe o Marquês de Sade tenha se esgueirado em meu sono para uma palestra, a razão, tão logo está num imperscrutável passado, pouco importa e é inacessível. Então, se vc se sentir ofendido por esse texto, peço desculpas, mas pode ser pra vc mesmo.

O tema a ser tratado remonta aos tempos longínquos da história humana, quando o ser humano ainda vivia em estado de natureza, entre os animais, vivendo dos frutos da natureza que Deus colocou a seu dispor. Rousseau mesmo diria que, junto ao primeiro cercadinho que marcou o início da sociedade, o bendito mal caráter que fodeu tudo também espalhou pra galera que seu melhor amigo tinha pinto pequeno.

Mas, como todos nós sabemos, depois de Marx ter pego sua peixeira filosófica e castrado todos os idealistas que o precederam, estabeleceu-se o paradigma de que a fofoca, tal como todos os demais produtos, teve grande ascenso durante o processo de formação da sociedade moderna, por meio do manejo do excesso de produção e hierarquização da sociedade. Dir-se-a, ainda por cima, que surge junto ao excesso de produção, uma vez que é o excesso de produção de informação, uma informação inútil e degradante. Uma outra vertente ainda dirá que é a hierarquização da sociedade e a necessidade de diferenciação ideológica que levará aos membros mais sujos da classe dominante a espalhar que a classe dominada tem um pinto hereditariamente pequeno.

Esses dois paradigmas, o excesso de produção e o mal-caratismo ideológico, persistem em nosso campo teórico e gostaria, primeiro, de explicitar suas consequências microfísicas na dinâmica dos grupos, em particular no tocante à primeira teoria.

Grupos das mais diversas naturezas se formam todos os dias, se expandem, dissipam, reorganizam-se de uma maneira dinâmica e modulante. Esse é o nosso paradigma rizomático e fractal que impera em nossa sociedade, o espelhamento contínuo do microcosmo ao macrocosmo e vice-versa.

Dessa forma vemos como a especialização da produção material e ideológica se reflete no microcosmo dos grupos conforme estes crescem, e determinados nichos se atribuem a função de produzir informação incerta. E como a capacidade de comunicação e disseminação da informação num grupo grande é limitada e menor do que a duração do frescor da informação (fofoca não é tostines, né, gente?), acaba que uma informação incerta se restringe a determinado grupo de pessoas. Este grupo, pela incerteza da afirmação e pela incerteza acerca da incerteza da afirmação, acaba por assumir verdades pouco esclarecidas que, por não atingir todo o grupo, assim permanecem.

Desta forma, quando interpretamos mal que determinado integrande de um grupo é pirado e espalhamos a informação, frequentemente o dito pirado não pode prestar esclarecimentos a ninguém.

A grande falha desse raciocínio é que hoje a capacidade de cominicação tende ao infinito, sobretudo entre grupos de classe média-alta, a exemplo das afamadas redes sociais (o que nos leva à questão moral da comunicação no fbchat, mas isso é papo pra outro dia). Desta forma, a informação poderia ser passada mais rapidamente e esclarecida. Nada seria mais prático do que exclamar em sua timeline  ou Wall com todas as forças de seus pulmões virtuais “Fulano tem pinto pequeno! Eu vi!”. Fulano poderia rapidamente responder: “Mentira! Vc estava de costas!”. E o/a difamador(a) ficaria rapidamente envergonhado/a de sua já perdida sensibilidade anal. O que nos remete a nossa segunda teoria.

O postulado geral da segunda teoria é o de que existe gente mal caráter e estas criam as fofocas. Algo em nossa experiência nos leva a crer na realidade desse postulado, no entanto devemos nos ater a um exame mais completo da questão. Ou não, por que seria só retórica e ta cheio de gente mal caráter por aí. Podemos assim poupar o leitor de uma longa arguição cuja conclusão remete ao formato da frigideira de Deus e seus cantos onde se acumula fuligem (local onde se formam os mal-caráter).

E no final das contas Rousseau estava certo...


Xô Satanás

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