terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O pulmão do poeta

O poeta traga o mundo
e expira sua poesia.

Tem culpa, o poeta?
da fumaça de sua poesia?
da tosse daqueles ao seu redor?

Pode o poeta curar este seu vício,
tratar sua dependência
de destilar do mundo
o pior e o melhor,
o alcatrão e o extase?

Tampouco trata sua boca
de bem formar os gazes,
adocicar os odores,
clarear as cinzas. Tal,
não seria sua natureza.

Sua poesia é isso,
folha queimada,
brasa tragada,
que habita sua respiração,
e segundos depois é expelida.
Deixa atras a tosse,
o cancro, o angina.

Portanto entenda,
ao beijares o poeta,
que o amargo dos teus lábios,
seus dedos amarelados,
seu rosto envelhecido,
seus olhos vermelhos,
vem da carne queimada,
da chama do mundo,

que ele traga de ti.

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Xô Satanás