segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Poente
Quando a lágrima cai dos olhos semicerrados
À meia luz do poente
Quando a noite se insinua sobre o dia
E os corvos cantam
Memento mori
Quando se sente abrindo caminho pela escuridão
Pairando entre cá e lá
Quando se pisa entre dois mundos
E as cruzes de pedra repetem
Memento mori
Ali onde a vida encontra seu fim e começo
Lugar no tempo, tempo no espaço
Onde dançam sátiros e pestilentos
Teatro de almas indecisas
É o poente da alma
Nesse momento inefável
Quando balança a mortalha
Sente-se cheiro de jasmim
Fecha-se os olhos
E sonha-se orgias sem fim
Quando a realidade se dissolve
E a alma encontra a si mesma
E não se reconhece
Por que nunca se viu
Mais nua
Quando a razão falha
Toda lei se perde
Os números calam-se
As palavras faltam
E os olhos fecham
Quando o amor não mais existe
O eu dissipa ao som do abismo
Toda imagem escurece
Todo deus some
E a natureza, feia, aparece
Este
É o poente da alma
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Virtude
A mão que corta agora segura o caneco
O pulso aberto agora enfia-se no bolso
Memórias de um futuro lhe perturbam
É raro estar sozinho nesses dias
Mas, em meio ao som de dezenas de gritos e risadas,
Ele permanecia
Só
Corria ao mundo, que lhe barrava
Não lhe pertencia
Dentro de si se encontrava
Preso
Uma força urgente de súbito brota
E ele toma o próximo passo
O pulso aberto agora enfia-se no bolso
Memórias de um futuro lhe perturbam
É raro estar sozinho nesses dias
Mas, em meio ao som de dezenas de gritos e risadas,
Ele permanecia
Só
Corria ao mundo, que lhe barrava
Não lhe pertencia
Dentro de si se encontrava
Preso
Uma força urgente de súbito brota
E ele toma o próximo passo
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Uma Brisa Matutina...
Nada como ter insights legais a
partir de fatos cotidianos... Hoje acordei as 9 horas, tentando manter minha
autoprescrita dieta de 7 horas de sono diárias, e imediatamente fui ao pc
sustentar meu irritante vício no facebook... Eis que alguns minutos depois vejo
a Mari online, curiosamente enquanto lia uma postagem sua das 4h da manhã... “Meu,
essa garota não dorme?” pensei comigo mesmo... “Deve ser por conta do café”,
respondi (Mariana é uma sabida dependente de café)... e o raciocínio do café
foi evoluindo... “O café age diretamente no sistema nervoso central...”, “Pessoas
se viciam em café e criam tolerância ao seu efeito, logo, ele deve alterar de
certa forma a expressão gênica neuronal, direta ou indiretamente”... e assim
seguiu a brisa...
Nesse momento parei pra tomar um café... o papo entre meus neurônios racionais havia animado uma galera mais gourmet...
Tomando o café, continuei...
(a reclamação do meu estômago veio
só alguns minutos depois... deixo claro à Mariana que mandarei a ela a conta de
meu gastroenterologista)
Bom, nos é evidente esse efeito do
café por conta de sua ação aguda de fenomenologia clara... acordamos, ficamos
agitados, mais dispostos, enfim. E podemos inferir mudanças mais estruturais
devido à abolição desse efeito com o uso contínuo. Essa assunção me leva
diretamente a pensar... existem tantas substâncias que consumimos no dia-a-dia
na alimentação, respiração e mesmo através da pele... tão importante é esse
fato que nossa função hepática evoluiu para degradar os mais diversos tipos de
substâncias as quais podemos nos expor.
Se, de forma direta ou indireta,
algumas destas substâncias acessarem o
sistema nervoso central e tiverem alguma ação sobre ele, não poderiam
modular nossas funções psíquicas? O comportamento não poderia ser em parte
modulado por psicofármacos naturais? Humor, personalidade, habilidades,
percepções (quem sabe a incapacidade natural de ver cinza), não poderiam ter
sido influenciados por alimentos, poluentes ou mesmo bactérias que nos
colonizem?
O que proponho é se não há um papel
mais direto e bioquímico do ambiente em modular nossos pensamentos e
comportamentos. Qual o papel do nosso ambiente bioquímico em provocar
alterações estruturais e epigenéticas em nosso cérebro?
Fiz um (muito) breve pesquisa, sem
muito compromisso e fui capaz de achar algumas coisas interessantes, algumas
talvez não tão relacionadas ao mecanismo estrito aqui proposto, mas que nos
levantam alguns dados interessantes. Confesso que não li os artigos na íntegra,
a preguiça presa nos meus pés me limitou a ler os resumos, mas já da pra ter
uma idéia interessante...
O primeiro artigo testou o efeito do
consumo de altas quantidades de gordura por ratinhas prenhas. Ele traz dados
interessantes de outros estudos que mostraram a importância do ambiente materno
no desenvolvimento do sistema GABA (o que faz vc ficar calminho... ou bêbado),
serotonérgico (que faz vc ficar feliz... ou chapado de ácido) e nas
neurotrofinas (que fazem o tico conversar com o teco), além de haverem
evidências de influências no comportamento futuro da prole, como distúrbios de
ansiedade. O estudo em si evidenciou que a alta ingestão de gordura pela mãe
gerou uma prole mais ansiosa e com comportamento mais explorador. Além disso a
expressão de determinados genes no hipocampo esteve alterada nos filhotes
destas ratinhas. (as ratinhas, na realidade, eram camundonguinhas, mas como
camundonguinhas é um termo muito chato de escrever e muito menos fofinho que
ratinha, fiquei com ratinha... desculpas, Ixa)
Um outro estudo, também com ratinhos
(camundonguinhos), avaliou a resposta ao baixo consumo de n-3 ácidos graxos
poliinsaturados, que já foi relacionado na literatura ao desenvolvimento de
transtornos psiquiátricos. Este artigo mostrou que os ratinhos que não recebiam
este ácido graxo na dieta tinham seu sistema endocanabinóide (aquele que te
deixa calminho e te faz chapar de maconha) sub-regulado e não apresentavam
resposta ansiolítica (ficar calminho) a drogas canabinóides.
O efeito do consumo de gordura no
sistema nervoso é mais entendível, é claro, por conta do papel dos ácidos
graxos em formar a complexa membrana celular do neurônio que é responsável por
manter e controlar propriamente seu potencial de ação, além da necessidade da
gordurosa capa dos axônios que é bainha de mielina. No entanto isso ainda não
refere à questão colocada: podem haver psicofármacos na nossa alimentação?
Lembrei agora do lítio que é encontrado as vezes em quantidades bem razoáveis
na água mineral e é usado como fármaco no transtorno bipolar.
O estudo seguinte interessa mais ao
meu propósito: comparou o efeito de extratos de carne de galinha, porco e boi
sobre a ativação de diferentes sistemas monoaminérgicos (serotonina, noradrenalina
e dopamina, que tem funções diversas em nosso celebrinho) e demonstrou
diferenças significativas conforme o que o ratinho comia. NO ENTANTO, não foi
observada diferença na composição de aminoácidos das diferentes fontes
proteicas, levando os autores a cogitar que outras substâncias , como pequenos
peptídeos, presentes em algumas carnes e não em outras, possam estar levando a
esta mudança.
Acho que foi isso, desculpem pelo
texto longo, mas acabei me entusiasmando. Se souberem de algo interessante ou
quiserem alguma referência que eu possa ajudar, por favor me avisem.
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“Fuck”
Mari, sobre o efeito do café em seu cérebro
Mari, sobre o efeito do café em seu cérebro
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Xô Satanás
terça-feira, 26 de junho de 2012
Um começo
Um começo
Teço fios de prata quando me calo
Costuro a trama do próprio argumento
Ponto-a-ponto preparo cada ato
Ao terceiro som dou inicio ao espetáculo
Há uma que
bra
do ritmo
Súbito, surge
seu sorriso, breve
Passam, fugaz,
seus lábios, tímidos
E foge
E vem, de vez. Esconde-se
nos meus sonhos. Persegue-me
a cada passo. Mas não vem
estar por perto. Encontra-me
Perdendo-me
Teço fios de prata quando me calo
Costuro a trama do próprio argumento
Ponto-a-ponto preparo cada ato
Ao terceiro som dou inicio ao espetáculo
Há uma que
bra
do ritmo
Súbito, surge
seu sorriso, breve
Passam, fugaz,
seus lábios, tímidos
E foge
E vem, de vez. Esconde-se
nos meus sonhos. Persegue-me
a cada passo. Mas não vem
estar por perto. Encontra-me
Perdendo-me
Um esboço a uma teoria da fofoca
Volto no
dia de hoje com uma tremenda disposição ao sarcasmo. Talvez os passarinhos
tenham me cantado funk carioca enquanto dormia ou quem sabe o Marquês de Sade
tenha se esgueirado em meu sono para uma palestra, a razão, tão logo está num
imperscrutável passado, pouco importa e é inacessível. Então, se vc se sentir
ofendido por esse texto, peço desculpas, mas pode ser pra vc mesmo.
O tema a
ser tratado remonta aos tempos longínquos da história humana, quando o ser
humano ainda vivia em estado de natureza, entre os animais, vivendo dos frutos
da natureza que Deus colocou a seu dispor. Rousseau mesmo diria que, junto ao
primeiro cercadinho que marcou o início da sociedade, o bendito mal caráter que
fodeu tudo também espalhou pra galera que seu melhor amigo tinha pinto pequeno.
Mas, como
todos nós sabemos, depois de Marx ter pego sua peixeira filosófica e castrado
todos os idealistas que o precederam, estabeleceu-se o paradigma de que a
fofoca, tal como todos os demais produtos, teve grande ascenso durante o
processo de formação da sociedade moderna, por meio do manejo do excesso de
produção e hierarquização da sociedade. Dir-se-a, ainda por cima, que surge junto
ao excesso de produção, uma vez que é o excesso de produção de informação, uma
informação inútil e degradante. Uma outra vertente ainda dirá que é a
hierarquização da sociedade e a necessidade de diferenciação ideológica que
levará aos membros mais sujos da classe dominante a espalhar que a classe
dominada tem um pinto hereditariamente pequeno.
Esses dois
paradigmas, o excesso de produção e o mal-caratismo ideológico, persistem em
nosso campo teórico e gostaria, primeiro, de explicitar suas consequências microfísicas
na dinâmica dos grupos, em particular no tocante à primeira teoria.
Grupos das
mais diversas naturezas se formam todos os dias, se expandem, dissipam,
reorganizam-se de uma maneira dinâmica e modulante. Esse é o nosso paradigma
rizomático e fractal que impera em nossa sociedade, o espelhamento contínuo do
microcosmo ao macrocosmo e vice-versa.
Dessa forma
vemos como a especialização da produção material e ideológica se reflete no
microcosmo dos grupos conforme estes crescem, e determinados nichos se atribuem
a função de produzir informação incerta. E como a capacidade de comunicação e
disseminação da informação num grupo grande é limitada e menor do que a duração
do frescor da informação (fofoca não é tostines, né, gente?), acaba que uma
informação incerta se restringe a determinado grupo de pessoas. Este grupo,
pela incerteza da afirmação e pela incerteza acerca da incerteza da afirmação,
acaba por assumir verdades pouco esclarecidas que, por não atingir todo o
grupo, assim permanecem.
Desta
forma, quando interpretamos mal que determinado integrande de um grupo é pirado
e espalhamos a informação, frequentemente o dito pirado não pode prestar esclarecimentos
a ninguém.
A grande
falha desse raciocínio é que hoje a capacidade de cominicação tende ao
infinito, sobretudo entre grupos de classe média-alta, a exemplo das afamadas
redes sociais (o que nos leva à questão moral da comunicação no fbchat, mas
isso é papo pra outro dia). Desta forma, a informação poderia ser passada mais
rapidamente e esclarecida. Nada seria mais prático do que exclamar em sua timeline
ou Wall com todas as forças de
seus pulmões virtuais “Fulano tem pinto pequeno! Eu vi!”. Fulano poderia
rapidamente responder: “Mentira! Vc estava de costas!”. E o/a difamador(a)
ficaria rapidamente envergonhado/a de sua já perdida sensibilidade anal. O que
nos remete a nossa segunda teoria.
O postulado
geral da segunda teoria é o de que existe gente mal caráter e estas criam as
fofocas. Algo em nossa experiência nos leva a crer na realidade desse
postulado, no entanto devemos nos ater a um exame mais completo da questão. Ou
não, por que seria só retórica e ta cheio de gente mal caráter por aí. Podemos assim
poupar o leitor de uma longa arguição cuja conclusão remete ao formato da
frigideira de Deus e seus cantos onde se acumula fuligem (local onde se formam
os mal-caráter).
E no final
das contas Rousseau estava certo...
Xô Satanás
Um poema enjoadinho...
Um poema enjoadinho...
Ajeita-se o poeta em seu trono de vidro
Sem flerte, toma a pena a punho
E, num lance, escreve seu rascunho
Sobe o olhar e aprecia como Fedro
Tem o sorriso na boca e nariz erguido
"Ah!", exclama, e do rascunho faz o final
"Tão belos são meus cantos e primordial
se faz meu verso, que preciso mais no mundo?"
Tolos o rodeiam
Todos a babar
A arte bruta e sem cuidade se assemelha à voz gutural
As vezes bela, sempre ruidosa,
Dilacera, aos poucos, a corda vocal
E o poema se degenera em prosa
O poeta não tem espelho em sua casa
Tivesse, veria o desgaste de sua fronte
O frio que torna seu verso trote
A roupa velha de palhaço que veste
Se um dia passar teu delírio
E acaso ver sua face sobre o rio
Por si não caindo de amor
Despertar-se-a infinita dor
Ajeita-se o poeta em seu trono de vidro
Sem flerte, toma a pena a punho
E, num lance, escreve seu rascunho
Sobe o olhar e aprecia como Fedro
Tem o sorriso na boca e nariz erguido
"Ah!", exclama, e do rascunho faz o final
"Tão belos são meus cantos e primordial
se faz meu verso, que preciso mais no mundo?"
Tolos o rodeiam
Todos a babar
A arte bruta e sem cuidade se assemelha à voz gutural
As vezes bela, sempre ruidosa,
Dilacera, aos poucos, a corda vocal
E o poema se degenera em prosa
O poeta não tem espelho em sua casa
Tivesse, veria o desgaste de sua fronte
O frio que torna seu verso trote
A roupa velha de palhaço que veste
Se um dia passar teu delírio
E acaso ver sua face sobre o rio
Por si não caindo de amor
Despertar-se-a infinita dor
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