quarta-feira, 27 de junho de 2012

Uma Brisa Matutina...


Nada como ter insights legais a partir de fatos cotidianos... Hoje acordei as 9 horas, tentando manter minha autoprescrita dieta de 7 horas de sono diárias, e imediatamente fui ao pc sustentar meu irritante vício no facebook... Eis que alguns minutos depois vejo a Mari online, curiosamente enquanto lia uma postagem sua das 4h da manhã... “Meu, essa garota não dorme?” pensei comigo mesmo... “Deve ser por conta do café”, respondi (Mariana é uma sabida dependente de café)... e o raciocínio do café foi evoluindo... “O café age diretamente no sistema nervoso central...”, “Pessoas se viciam em café e criam tolerância ao seu efeito, logo, ele deve alterar de certa forma a expressão gênica neuronal, direta ou indiretamente”... e assim seguiu a brisa...

Nesse momento parei pra tomar um café... o papo entre meus neurônios racionais havia animado uma galera mais gourmet... Tomando o café, continuei...

(a reclamação do meu estômago veio só alguns minutos depois... deixo claro à Mariana que mandarei a ela a conta de meu gastroenterologista)

Bom, nos é evidente esse efeito do café por conta de sua ação aguda de fenomenologia clara... acordamos, ficamos agitados, mais dispostos, enfim. E podemos inferir mudanças mais estruturais devido à abolição desse efeito com o uso contínuo. Essa assunção me leva diretamente a pensar... existem tantas substâncias que consumimos no dia-a-dia na alimentação, respiração e mesmo através da pele... tão importante é esse fato que nossa função hepática evoluiu para degradar os mais diversos tipos de substâncias as quais podemos nos expor.

Se, de forma direta ou indireta, algumas destas substâncias acessarem o  sistema nervoso central e tiverem alguma ação sobre ele, não poderiam modular nossas funções psíquicas? O comportamento não poderia ser em parte modulado por psicofármacos naturais? Humor, personalidade, habilidades, percepções (quem sabe a incapacidade natural de ver cinza), não poderiam ter sido influenciados por alimentos, poluentes ou mesmo bactérias que nos colonizem?

O que proponho é se não há um papel mais direto e bioquímico do ambiente em modular nossos pensamentos e comportamentos. Qual o papel do nosso ambiente bioquímico em provocar alterações estruturais e epigenéticas em nosso cérebro?

Fiz um (muito) breve pesquisa, sem muito compromisso e fui capaz de achar algumas coisas interessantes, algumas talvez não tão relacionadas ao mecanismo estrito aqui proposto, mas que nos levantam alguns dados interessantes. Confesso que não li os artigos na íntegra, a preguiça presa nos meus pés me limitou a ler os resumos, mas já da pra ter uma idéia interessante...

O primeiro artigo testou o efeito do consumo de altas quantidades de gordura por ratinhas prenhas. Ele traz dados interessantes de outros estudos que mostraram a importância do ambiente materno no desenvolvimento do sistema GABA (o que faz vc ficar calminho... ou bêbado), serotonérgico (que faz vc ficar feliz... ou chapado de ácido) e nas neurotrofinas (que fazem o tico conversar com o teco), além de haverem evidências de influências no comportamento futuro da prole, como distúrbios de ansiedade. O estudo em si evidenciou que a alta ingestão de gordura pela mãe gerou uma prole mais ansiosa e com comportamento mais explorador. Além disso a expressão de determinados genes no hipocampo esteve alterada nos filhotes destas ratinhas. (as ratinhas, na realidade, eram camundonguinhas, mas como camundonguinhas é um termo muito chato de escrever e muito menos fofinho que ratinha, fiquei com ratinha... desculpas, Ixa)

Um outro estudo, também com ratinhos (camundonguinhos), avaliou a resposta ao baixo consumo de n-3 ácidos graxos poliinsaturados, que já foi relacionado na literatura ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Este artigo mostrou que os ratinhos que não recebiam este ácido graxo na dieta tinham seu sistema endocanabinóide (aquele que te deixa calminho e te faz chapar de maconha) sub-regulado e não apresentavam resposta ansiolítica (ficar calminho) a drogas canabinóides.

O efeito do consumo de gordura no sistema nervoso é mais entendível, é claro, por conta do papel dos ácidos graxos em formar a complexa membrana celular do neurônio que é responsável por manter e controlar propriamente seu potencial de ação, além da necessidade da gordurosa capa dos axônios que é bainha de mielina. No entanto isso ainda não refere à questão colocada: podem haver psicofármacos na nossa alimentação? Lembrei agora do lítio que é encontrado as vezes em quantidades bem razoáveis na água mineral e é usado como fármaco no transtorno bipolar.

O estudo seguinte interessa mais ao meu propósito: comparou o efeito de extratos de carne de galinha, porco e boi sobre a ativação de diferentes sistemas monoaminérgicos (serotonina, noradrenalina e dopamina, que tem funções diversas em nosso celebrinho) e demonstrou diferenças significativas conforme o que o ratinho comia. NO ENTANTO, não foi observada diferença na composição de aminoácidos das diferentes fontes proteicas, levando os autores a cogitar que outras substâncias , como pequenos peptídeos, presentes em algumas carnes e não em outras, possam estar levando a esta mudança.

Acho que foi isso, desculpem pelo texto longo, mas acabei me entusiasmando. Se souberem de algo interessante ou quiserem alguma referência que eu possa ajudar, por favor me avisem.

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“Fuck”
Mari, sobre o efeito do café em seu cérebro

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Xô Satanás

terça-feira, 26 de junho de 2012

Um começo

Um começo


Teço fios de prata quando me calo
Costuro a trama do próprio argumento
Ponto-a-ponto preparo cada ato
Ao terceiro som dou inicio ao espetáculo

Há uma que
bra
do ritmo

Súbito, surge
seu sorriso, breve
Passam, fugaz,
seus lábios, tímidos

E foge

E vem, de vez. Esconde-se
nos meus sonhos. Persegue-me
a cada passo. Mas não vem
estar por perto. Encontra-me
Perdendo-me


Um esboço a uma teoria da fofoca


Volto no dia de hoje com uma tremenda disposição ao sarcasmo. Talvez os passarinhos tenham me cantado funk carioca enquanto dormia ou quem sabe o Marquês de Sade tenha se esgueirado em meu sono para uma palestra, a razão, tão logo está num imperscrutável passado, pouco importa e é inacessível. Então, se vc se sentir ofendido por esse texto, peço desculpas, mas pode ser pra vc mesmo.

O tema a ser tratado remonta aos tempos longínquos da história humana, quando o ser humano ainda vivia em estado de natureza, entre os animais, vivendo dos frutos da natureza que Deus colocou a seu dispor. Rousseau mesmo diria que, junto ao primeiro cercadinho que marcou o início da sociedade, o bendito mal caráter que fodeu tudo também espalhou pra galera que seu melhor amigo tinha pinto pequeno.

Mas, como todos nós sabemos, depois de Marx ter pego sua peixeira filosófica e castrado todos os idealistas que o precederam, estabeleceu-se o paradigma de que a fofoca, tal como todos os demais produtos, teve grande ascenso durante o processo de formação da sociedade moderna, por meio do manejo do excesso de produção e hierarquização da sociedade. Dir-se-a, ainda por cima, que surge junto ao excesso de produção, uma vez que é o excesso de produção de informação, uma informação inútil e degradante. Uma outra vertente ainda dirá que é a hierarquização da sociedade e a necessidade de diferenciação ideológica que levará aos membros mais sujos da classe dominante a espalhar que a classe dominada tem um pinto hereditariamente pequeno.

Esses dois paradigmas, o excesso de produção e o mal-caratismo ideológico, persistem em nosso campo teórico e gostaria, primeiro, de explicitar suas consequências microfísicas na dinâmica dos grupos, em particular no tocante à primeira teoria.

Grupos das mais diversas naturezas se formam todos os dias, se expandem, dissipam, reorganizam-se de uma maneira dinâmica e modulante. Esse é o nosso paradigma rizomático e fractal que impera em nossa sociedade, o espelhamento contínuo do microcosmo ao macrocosmo e vice-versa.

Dessa forma vemos como a especialização da produção material e ideológica se reflete no microcosmo dos grupos conforme estes crescem, e determinados nichos se atribuem a função de produzir informação incerta. E como a capacidade de comunicação e disseminação da informação num grupo grande é limitada e menor do que a duração do frescor da informação (fofoca não é tostines, né, gente?), acaba que uma informação incerta se restringe a determinado grupo de pessoas. Este grupo, pela incerteza da afirmação e pela incerteza acerca da incerteza da afirmação, acaba por assumir verdades pouco esclarecidas que, por não atingir todo o grupo, assim permanecem.

Desta forma, quando interpretamos mal que determinado integrande de um grupo é pirado e espalhamos a informação, frequentemente o dito pirado não pode prestar esclarecimentos a ninguém.

A grande falha desse raciocínio é que hoje a capacidade de cominicação tende ao infinito, sobretudo entre grupos de classe média-alta, a exemplo das afamadas redes sociais (o que nos leva à questão moral da comunicação no fbchat, mas isso é papo pra outro dia). Desta forma, a informação poderia ser passada mais rapidamente e esclarecida. Nada seria mais prático do que exclamar em sua timeline  ou Wall com todas as forças de seus pulmões virtuais “Fulano tem pinto pequeno! Eu vi!”. Fulano poderia rapidamente responder: “Mentira! Vc estava de costas!”. E o/a difamador(a) ficaria rapidamente envergonhado/a de sua já perdida sensibilidade anal. O que nos remete a nossa segunda teoria.

O postulado geral da segunda teoria é o de que existe gente mal caráter e estas criam as fofocas. Algo em nossa experiência nos leva a crer na realidade desse postulado, no entanto devemos nos ater a um exame mais completo da questão. Ou não, por que seria só retórica e ta cheio de gente mal caráter por aí. Podemos assim poupar o leitor de uma longa arguição cuja conclusão remete ao formato da frigideira de Deus e seus cantos onde se acumula fuligem (local onde se formam os mal-caráter).

E no final das contas Rousseau estava certo...


Xô Satanás

Um poema enjoadinho...

Um poema enjoadinho...

Ajeita-se o poeta em seu trono de vidro
Sem flerte, toma a pena a punho
E, num lance, escreve seu rascunho
Sobe o olhar e aprecia como Fedro

Tem o sorriso na boca e nariz erguido
"Ah!", exclama, e do rascunho faz o final
"Tão belos são meus cantos e primordial
se faz meu verso, que preciso mais no mundo?"

Tolos o rodeiam
Todos a babar

A arte bruta e sem cuidade se assemelha à voz gutural
As vezes bela, sempre ruidosa,
Dilacera, aos poucos, a corda vocal
E o poema se degenera em prosa

O poeta não tem espelho em sua casa
Tivesse, veria o desgaste de sua fronte
O frio que torna seu verso trote
A roupa velha de palhaço que veste

Se um dia passar teu delírio
E acaso ver sua face sobre o rio
Por si não caindo de amor
Despertar-se-a infinita dor