Nada como ter insights legais a
partir de fatos cotidianos... Hoje acordei as 9 horas, tentando manter minha
autoprescrita dieta de 7 horas de sono diárias, e imediatamente fui ao pc
sustentar meu irritante vício no facebook... Eis que alguns minutos depois vejo
a Mari online, curiosamente enquanto lia uma postagem sua das 4h da manhã... “Meu,
essa garota não dorme?” pensei comigo mesmo... “Deve ser por conta do café”,
respondi (Mariana é uma sabida dependente de café)... e o raciocínio do café
foi evoluindo... “O café age diretamente no sistema nervoso central...”, “Pessoas
se viciam em café e criam tolerância ao seu efeito, logo, ele deve alterar de
certa forma a expressão gênica neuronal, direta ou indiretamente”... e assim
seguiu a brisa...
Nesse momento parei pra tomar um café... o papo entre meus neurônios racionais havia animado uma galera mais gourmet...
Tomando o café, continuei...
(a reclamação do meu estômago veio
só alguns minutos depois... deixo claro à Mariana que mandarei a ela a conta de
meu gastroenterologista)
Bom, nos é evidente esse efeito do
café por conta de sua ação aguda de fenomenologia clara... acordamos, ficamos
agitados, mais dispostos, enfim. E podemos inferir mudanças mais estruturais
devido à abolição desse efeito com o uso contínuo. Essa assunção me leva
diretamente a pensar... existem tantas substâncias que consumimos no dia-a-dia
na alimentação, respiração e mesmo através da pele... tão importante é esse
fato que nossa função hepática evoluiu para degradar os mais diversos tipos de
substâncias as quais podemos nos expor.
Se, de forma direta ou indireta,
algumas destas substâncias acessarem o
sistema nervoso central e tiverem alguma ação sobre ele, não poderiam
modular nossas funções psíquicas? O comportamento não poderia ser em parte
modulado por psicofármacos naturais? Humor, personalidade, habilidades,
percepções (quem sabe a incapacidade natural de ver cinza), não poderiam ter
sido influenciados por alimentos, poluentes ou mesmo bactérias que nos
colonizem?
O que proponho é se não há um papel
mais direto e bioquímico do ambiente em modular nossos pensamentos e
comportamentos. Qual o papel do nosso ambiente bioquímico em provocar
alterações estruturais e epigenéticas em nosso cérebro?
Fiz um (muito) breve pesquisa, sem
muito compromisso e fui capaz de achar algumas coisas interessantes, algumas
talvez não tão relacionadas ao mecanismo estrito aqui proposto, mas que nos
levantam alguns dados interessantes. Confesso que não li os artigos na íntegra,
a preguiça presa nos meus pés me limitou a ler os resumos, mas já da pra ter
uma idéia interessante...
O primeiro artigo testou o efeito do
consumo de altas quantidades de gordura por ratinhas prenhas. Ele traz dados
interessantes de outros estudos que mostraram a importância do ambiente materno
no desenvolvimento do sistema GABA (o que faz vc ficar calminho... ou bêbado),
serotonérgico (que faz vc ficar feliz... ou chapado de ácido) e nas
neurotrofinas (que fazem o tico conversar com o teco), além de haverem
evidências de influências no comportamento futuro da prole, como distúrbios de
ansiedade. O estudo em si evidenciou que a alta ingestão de gordura pela mãe
gerou uma prole mais ansiosa e com comportamento mais explorador. Além disso a
expressão de determinados genes no hipocampo esteve alterada nos filhotes
destas ratinhas. (as ratinhas, na realidade, eram camundonguinhas, mas como
camundonguinhas é um termo muito chato de escrever e muito menos fofinho que
ratinha, fiquei com ratinha... desculpas, Ixa)
Um outro estudo, também com ratinhos
(camundonguinhos), avaliou a resposta ao baixo consumo de n-3 ácidos graxos
poliinsaturados, que já foi relacionado na literatura ao desenvolvimento de
transtornos psiquiátricos. Este artigo mostrou que os ratinhos que não recebiam
este ácido graxo na dieta tinham seu sistema endocanabinóide (aquele que te
deixa calminho e te faz chapar de maconha) sub-regulado e não apresentavam
resposta ansiolítica (ficar calminho) a drogas canabinóides.
O efeito do consumo de gordura no
sistema nervoso é mais entendível, é claro, por conta do papel dos ácidos
graxos em formar a complexa membrana celular do neurônio que é responsável por
manter e controlar propriamente seu potencial de ação, além da necessidade da
gordurosa capa dos axônios que é bainha de mielina. No entanto isso ainda não
refere à questão colocada: podem haver psicofármacos na nossa alimentação?
Lembrei agora do lítio que é encontrado as vezes em quantidades bem razoáveis
na água mineral e é usado como fármaco no transtorno bipolar.
O estudo seguinte interessa mais ao
meu propósito: comparou o efeito de extratos de carne de galinha, porco e boi
sobre a ativação de diferentes sistemas monoaminérgicos (serotonina, noradrenalina
e dopamina, que tem funções diversas em nosso celebrinho) e demonstrou
diferenças significativas conforme o que o ratinho comia. NO ENTANTO, não foi
observada diferença na composição de aminoácidos das diferentes fontes
proteicas, levando os autores a cogitar que outras substâncias , como pequenos
peptídeos, presentes em algumas carnes e não em outras, possam estar levando a
esta mudança.
Acho que foi isso, desculpem pelo
texto longo, mas acabei me entusiasmando. Se souberem de algo interessante ou
quiserem alguma referência que eu possa ajudar, por favor me avisem.
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“Fuck”
Mari, sobre o efeito do café em seu cérebro
Mari, sobre o efeito do café em seu cérebro
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Xô Satanás
..É por isso que se chama Camundongo de Dongo, é muito menor é mais bonitinho. X3
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